quinta-feira, maio 15, 2008

Feira do Livro ou não, eis a questão

"Indecisões, reuniões, pressões. Após meses de avanços e recuos, a 78ª Feira do Livro encontra-se neste momento suspensa por decisão da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Isto porque, apesar dos stands estarem já montados no Parque Eduardo VII, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) não entregou ainda à autarquia o layout final do certame, com o descritivo da composição e disposição dos stands.
É mais um episódio numa guerra que parece sem fim à vista quando faltam apenas uma semana para a abertura da feira. No centro da polémica está a Leya, o maior grupo editorial português, nascido em Janeiro pela mão de Miguel Pais do Amaral. O Leya mantém que quer participar na edição deste ano, mas insiste em dispor de um espaço diferente dos stands habituais, exigindo uma área comum de 720 metros quadrados para as suas seis editoras - que no conjunto representam dez por cento da feira. A APEL, que tem a organização do certame a seu cargo, considera que a feira é dos livros e não dos editores, e tem defendido que os stands permaneçam iguais. Argumenta também que o grupo Leya não se inscreveu atempadamente, mantendo a mesma posição de intransigência, apesar da prorrogação do prazo de inscrição que lhe foi concedida a título excepcional. No entanto, no passado dia 6, terá concordado que os formulários de inscrição da Leya seriam feitos através da UEP, de que são associadas as editoras que integram o grupo. Com stands diferentes dos habituais.
Ontem, a Câmara Municipal de Lisboa, que anualmente subsidia o evento, decidiu suspender os trabalhos de montagem que estava a realizar. Num extenso comunicado, a CML pediu explicações urgentes à direcção da APEL sobre a recusa de instalação de novos modelos de pavilhões na feira, nomeadamente do grupo Leya, após se ter comprometido a aceitá-los. Em quatro páginas, a câmara faz o historial das reuniões que começaram em Janeiro. E acrescenta que a APEL "ainda não entregou o layout final de implantação da feira", que condicionaria a decisão da câmara sobre o certame.
Considera ainda o documento municipal enviado aos jornalistas que "a APEL foi demonstrando uma crescente intransigência, não aceitando negociar qualquer ponto".
Na segunda-feira o grupo Leya entregou na direcção municipal o projecto final de implantação de uma "praça Leya" no Parque Eduardo VII, que foi aprovado. No final do comunicado a CML informa que ontem decidiu "solicitar à direcção da APEL um esclarecimento sobre a situação", fazendo depender dessa resposta "as consequências legítimas que se impõem como corolário deste processo". Ou seja, a realização ou não do evento.
Abaixo assinado contra Leya
A uma semana do início da feira, a discussão em volta do modelo parece longe de estar serenada. Também ontem, a Gradiva, editora associada da UEP (a que são também associadas as editoras do Leya), lançou um abaixo-assinado em que responsabiliza o grupo de Paes do Amaral pela ameaça que paira sobre a realização do certame, considerando que "é absolutamente inaceitável que um grupo económico esteja a paralisar a realização de uma iniciativa tão significativa e emblemática como a Feira do Livro de Lisboa." Nesse sentido, o documento assegura que os seus signatários "recorrerão aos tribunais para serem indemnizadas por toda a significativa despesa que já fizeram para dignificar a apresentação dos seus stands, e pelos prejuízos que o adiamento ou a não realização da Feira do Livro de Lisboa implicarem." Isto, explica-se, caso Feira do Livro de Lisboa vier a ser utilizada como instrumento dos objectivos empresariais de qualquer grupo económico, afectando o livro e a leitura, prejudicando os leitores, os autores e a generalidade das editoras independentes.
"Da parte do Leya, não houve reacção. Por intermédio do seu assessor, o grupo limitou-se ontem a afirmar que agora "o problema é entre a CML e a APEL. Não comentamos""
In "Diário de Notícias"
Num país em que se tratam os livros como mais um negócio, em que o amor pelo papel, letras, tintas, cheiros e sabores de cada livro é tratado assim, ninguém se pode admirar que a cultura ande pelas ruas da amargura e que os "Morangos com Açúcar" triunfem.
Pela parte que me diz respeito, resta-me exercer o meu direito à indignação. E sentir uma profunda tristeza pelo facto.

5 comentários:

Capitão-Mor disse...

Sintomático! Será mais um sinal da falência da CML? Estamos a precisar de um "xerife" com a máxima urgência...

Anónimo disse...

A leitura é o meu hobbie favorito. Sou daquelas pessoas que quando passa por uma livraria começa logo a arrastar os pés até parar em frente à montra. A distância mais curta entre dois pontos, é a que não tiver uma livraria.

Quando me falam de feira do livro imagino logo uma FIL de livros, autores, editoras, com todo um espectáculo de cor, alegria, de diversidade e de internacionalismo.

A nossa feira é muito bonita, pelo que vejo anualmente da janela do local onde trabalho. Mas temos que admitir, por mais que amemos os livros, subir e descer o Parque (já carregadita de uns livros) sob o sol (ou chuva), não é uma prova de amor literário. É prova de esforço mesmo!

Agora que está tão na moda as livrarias-café, imaginem a FIL (com ar condicionado) com ilhas de stands de livros, ilhas vermelhas Sical com as respectivas cadeiritas, um palco com mais cadeirinhas em que se alternam grupos de música com autores e debates sobre livros. Pelas ilhas erram ávidos leitores arrastando o seu cesto-trolley carregadito de livros.

E aí sim, teremos uma feira do livro, e não das editoras.

E, já agora, ser arrojado, e fazer uma feira internacional!

Anónimo disse...

Enquanto a cultura for um bem supérfluo, o resto será tudo uma questão de interesse!

Por exemplo: porque é que o IVA nos CDs e DVDs é superior ao dos livros?! Depois admiram-se que haja pirataria...

Rubi disse...

Pois, indignação é o que nos resta, até porque prefiro morangos com chantilly ou gelado de baunilha...

AnadoCastelo disse...

Não consigo compreender a arrogância desta gente e depois querem vender, vender, vender. Tomara as pessoas terem dinheiro para os bens essenciais. Além disso faz-se muito pouco para que os jovens ganhem o gosto pela leitura. E depois admiram-se que vendam pouco. Haja paciência.
Beijinhos