O estado de decrepitude a que o meu país chegou
deixa-me desolada. Não sou uma pessoa optimista, nem tão pouco pessimista, sou
realista.
Quando um país, como Portugal, tem fome na sua
sociedade, tem crianças a irem parar ao hospital com fome, então temos um
problema. Esse problema começa com o desemprego e termina com a falta de
solidariedade.
É um facto que muitos empresários têm tido que
fechar as portas por não resistirem à força avassaladora da crise económica e
financeira que se abateu sobre o nosso país, e não acredito nem por um minuto
que esses empresários, caso tivessem outra hipótese, fechassem portas. No
entanto, também existem aqueles que se têm vindo a aproveitar da crise, para
fazerem falcatruas, nomeadamente fecho de empresas que eram viáveis, mas que
por capricho ou vontade de sair do mercado ou simplesmente porque não querem
investir e gastar dinheiro: são avessos ao risco e preferem meter o dinheiro no
banquinho (cá ou numa off-shore) e ir passear para as Caraíbas. Nesta
circunstância, deviam ir presos, porque para eles estarem bem, existem milhares
que estão muito mal.
Do fecho destas empresas, resulta um mar de
desempregados, desempregados que na sua maioria não têm qualquer tipo de
protecção no desemprego e muitos são casais com filhos.
Esses casais têm que lutar, mendigar e fazer uma
ginástica atroz para sobreviver dia após dia, semana após semana, e essa não
foi a vida que os nossos governantes lhes prometeram, no horizonte de
expectativa dos portugueses, a fome não fazia parte.
Começo a ponderar se a política empresarial
norte-americana de não empregar casais, nem permitir relacionamentos entre
colegas, não tem a sua razão de ser e talvez, seja altura de este tema ser
debatido sem tabus na nossa sociedade. Pessoalmente sempre achei que seria
horrível estar no mesmo ambiente de trabalho com uma pessoa com quem vivesse,
seria uma falta total de privacidade e quem me conhece sabe que eu gosto da
minha privacidade e do meu espaço.
À medida que o tempo avança e que as desgraças
começam a assolar Portugal, cada vez mais me pergunto o que é que é necessário
fazer para minimizar o impacto desta crise nos mais pobres e desfavorecidos da
nossa população. Aqueles que não têm como se defender, nem como fazerem ouvir a
sua voz, aqueles que dependem integralmente da solidariedade das IPSS, do Banco
Alimentar, da Cáritas e da Igreja. Por isso, este fim-de-semana, aquando do
peditório do Banco Alimentar, espero que todos os que ainda podem contribuam,
sem medo pelo dia de amanhã, porque alguém, quando chegar a nossa vez estenderá
a sua mão, ou pelo menos assim o espero.