segunda-feira, novembro 28, 2005

Solidão de Domingo

Há quem tenha o sindrome da 2ª-feira, eu tenho o síndrome dos Domingos.

ODEIO positivamente os Domingos, principalmente os Domingos à noite. Sinto uma solidão imensa....

Há muitos anos atrás fiz erasmus e passei um Domingo especialmente só.A minha colega de quarto e respectivo namorado não quiseram a minha companhia para almoço e os meus amigos tinham partido todos numa excursão para Santander. Não consegui encontrar ninguém para almoçar e comecei a deambular pelas ruas de Valladolid em busca de um restaurante ou cafetaria. Só quem viveu em Espanha sabe o quão horrível é um Domingo naquelas cidades que se transformam e passam de borbulhantes a cidades fantasma da uma da tarde até às 5, e novamente a partir das 7.É desesperante, acreditem.Não se vê uma viva alma pelas ruas.
Comi uma porcaria duma tosta mista num café qualquer, e cheguei a casa com uma sensação de vazio, tristeza e solidão tão grande que ainda hoje a sinto só de recordar o momento.
Por sorte telefonou-me uma Amiga a quem tinha deixado uma mensagem antes de sair de casa. Convidou-me para ir a casa dela que ficava a dois passos da residência. Em companhia da minha querida Ana e da Mãe dela, comi uma taça de morangos com chantily e vi a Ally MacBeal que tinham gravado na noite anterior. Se não são elas, naquele dia tinha certamente desabado e entrado em depressão profunda.

O meu ano de erasmus foi o mais feliz e o mais triste de toda a minha curta vida.Nunca ri tanto, nem chorei tanto. Mas foi decididamente o melhor ano até hoje. Deixou-me várias marcas, mas acho que decididamente a mais profunda foi esta. Como me disse a Maria então, em erasmus não aprendemos a viver na solidão, aprendemos sim a conviver com ela.

Mas eu nunca mais consegui superar os Domingos à noite. Em junho morri de vergonha, mas pedi a um grande amigo que me deixasse ficar assim só um bocadinho em casa dele...era domingo... "nem vais dar por ela que eu aqui estou, juro!". E assim foi.. Não lhe disse o porquê e ele também não perguntou. Limitou-se a assentir e estranhar. Sentei-me muito sossegadinha na sala, colada à TV Cabo e deliciada a ver o Frasier. Ele estava no escritório, apareceu 1 hora mais tarde porque chegou-se a esquecer que eu lá estava, tamanho o silêncio. Mas eu não me esqueci que ele lá estava. Não preciso que estejam horas ao pé de mim, abraçados ou de receber mimo, só preciso de não estar sozinha em casa e que a companhia silenciosa seja o suficientemente grande para preencher o vazio e a solidão que me invade nesses dias.

Ontem foi Domingo. Novamente fui invadida por essa sensação de solidão. Nem sempre acontece. Mas há alguns domingos em que a coisa se torna mais difícil, não sei porquê. Levantei-me tarde para que o tempo passasse mais depressa e chegasse logo 2ªf e o vazio fosse mais curto. Não adiantou. Dei por mim na mexicana a lanchar, sozinha. Rumei para o Corte Inglês para recuperar a minha última aquisição, encontrei-me com uma das minhas melhores amigas, e juntas estivemos até às 22h. Mas nem assim a sensação me abandonou. Melhorou um pouquinho, mas senti-me tremendamente só à mesma.Mesmo em companhia, a solidão atacou. Quando cheguei a casa não melhorou nem um pouco. Agarrei-me à caixa estúpida e vi um filme ainda mais deprimente sobre uma senhora com cancro!! Masoquista? Só pode! Mas não dava mais nadinha na TV! Um livro, porque não? Também não funcionou.

Eram 2 e meia quando cedi ao cansaço e adormeci. Antes disso no entanto pus-me a rebuscar em mim o que sentia: saudades. Saudades de muitos amigos e tive uma conversa imaginária com um deles. Curiosamente falamos hoje sobre isso, e por motivos diferentes, ontem o sentimento era o mesmo. Telepatia, talvez. Tenho muitos e muito bons Amigos, mas as solidões de domingo pouca gente ou quase ninguém mas consegue arrancar.
Odeio os domingos na sua completa acepção!!

6 comentários:

Anónimo disse...

Mis días sin ti son tan oscuros
tan largos tan grises
mis días sin ti

mis días sin ti son tan absurdos
tan agrios tan duros
mis días sin ti

mis días sin ti no tienen noches
si alguna aparece
es inútil dormir

mis días sin ti son un derroche
las horas no tienen principio, ni fin

tan faltos de aire
tan llenos de nada
chatarra inservible
basura en el suelo
moscas en la casa


Shakira,Dónde están los ladrones,Sony Music Records,1999.

Em Barcelona, nesse ano inolvidável de Erasmus, costumava ouvir esta música aos Domingos, tão simplesmente, porque Dónde están los ladrones fazem muita companhia quando tens que limpar a casa.

Associo sempre este álbum a esse ano de 1999 e a muitas memórias felizes. A um Amor distante, mas correspondido e feliz, no que tinha de possível. A uma mão cheia de Amigos que, até hoje,não me deixam só. A jantares de mesa cheia, regada mais de carinho que de vinho. A mil e uma cartas, que ainda hoje tentam evadir-se da caixa de sapatos que as arquiva.

No entanto, depois de ler este teu post, esta canção terá um novo significado para mim. Terá o a sabor agrio desses teus Domingos.

Maríita disse...

Andorinha,
Eu bem tinha dado muito para ter tido companhia no Domingo, e no entanto sei, que onde estive não era justo levar-te contigo.

Se te serve de consolo, acredita que o meu Domingo não teve nada de bom. Mas ontem, segunda-feira, tive um abraço do Alfredo que me partiu toda, beijos de verdade cheios de carinho e serviu para recuperar um bocadinho do mal que eu passei no Domingo... :-)!

No próximo finde tu não estás, eu permaneço e no outro a seguir continuo sozinha. Isto passa, mais cedo ou mais tarde.

Beijos cheios de carinho e amizade

Andorinha disse...

Desculpa Tyggreza,não era essa a minha intenção...deixar-te triste. O meu ano de erasmus foi efectivamente excepcional,e tal como tu tive imensos momentos de casas cheias e noites e dias tão completos que nunca mais consegui recuperar essa sensação de tamanha emoção!No entanto os domingos à noite não têm safa.Foi algo que ficou.A solidão sem Pais,sem o meu Maninho,os Amigos de sempre, aqueles que nunca falham e estão sempre lá...

b r a z i n h a disse...

... para te ser sincero, nem sei bem o que hei-de comentar a este teu texto... digo-te apenas que, mesmo quando já não for o mesmo, o sofá vai estar lá sempre... haja sorrisos... vamos fazer com que este domingo seja diferente! E sei que vai ser... eheh...

Anónimo disse...

dá-lhe mais uns anitos, um marido chato, dois putos maravilhosos mas impossiveis e vais suspirar pela 'solidão de domingo'

Sandra Neves disse...

Como referi a um amigo ainda ontem... concordo plenamente ctg... não sei porquê, mas os domingos são, de facto, um dia terrivel. No verão nem tanto... que sou bicho de sol e praia... mas de inverno... que tristeza atroz!!
O final de dia nem sempre é mau, que às vezes resolvo ir dançar... mas o dia em si deixa sempre uma sensação estranha.