Ontem vi passar a procissão... Era um mar de gente a descer a Fontes Pereira de Melo e eu no edifício do Saldanha Residence a ter uma conversa de 60 minutos com um amigo que não via desde finais de Outubro...
Pode parecer estranho ter conversas cronometradas, mas temos agendas bastantes complexas, ele porque raramente se encontra em Portugal, eu porque tinha um jantar em casa com pessoas de família.
Ele é o típico executivo a 100 à hora, três telemóveis, um português, um espanhol e um italiano que tocam insistentemente como se os comboios e respectiva gestão não pudessem aguardar por segunda-feira. Ele é o típico espanhol, é amigo mas não o demonstra em demasia... por si acaso. Ele é o único que não falando comigo desde Outubro, assim que me viu me deu um abraço. Sabem quando alguém nos dá aquele abraço que nos envolve em amizade e sensação de pertença? Foi um destes abraços que tive (o que faz com que seja o segundo desta semana) e que me deixou muito feliz.
Estivémos a tomar chá e a conversar. Começámos a ouvir as sirenes da polícia a abrir caminho, aproximava-se a procissão. Não sei se foi por estarmos à janela gelados, se foi pelo ambiente que se vivia na rua, se foi pelo facto de que sabemos que podemos confiar um no outro, estivemos a falar de temas que até aqui, pela proximidade que tínhamos, era difícil abordar, entre eles a solidão.
Fiquei admirada por ele sentir, tal como eu, tanta solidão. A exigência do trabalho, as viagens constantes e o facto dos amigos terem continuado a sua vida noutros moldes e na mesma cidade, levaram a que nos encontrássemos ontem, no 8º andar de um edifício da Fontes Pereira de Melo a contar um ao outro o que esperamos que se venha a realizar num futuro próximo.
Amanhã ele está de regresso a Génova e eu ao meu dia-a-dia, mas gostei de estar à janela a ver a procissão passar com vento frio e chuva lá fora.
Sem comentários:
Enviar um comentário