domingo, novembro 11, 2007

Podia ter-te enviado um e-mail,

mas depois achei que assim esclarecia muitas dúvidas.
Para a Breaking!
Quando uma pessoa trabalha virada para o público contacta com muitas situações estranhas, mas no serviço público de saúde e nos serviços da Segurança Social aparecem diariamente casos que bradam aos céus.
Sobre o reumatismo:
As doenças reumáticas dividem-se em dois grupos, as malignas e as benignas. As primeiras matam, as segundas moem. Em comum têm uma série de factores, são doenças crónicas prolongadas (não se morre de artrite reumatóide num mês), controlam-se com medicação, implicam uma enorme capacidade de encaixe, e são doenças com elevados custos financeiros.
O que é que eu te posso dizer sobre os doentes crónicos? São pessoas muito diferentes das outras, diga-se o que se disser, são pessoas que vêm a vida de modo mais tranquilo, são pessoas que encaram o dia-a-dia com uma determinação invulgar. Tenho conhecido ao longo dos tempos pessoas fantásticas.
As doenças reumatológicas são incapacitantes. As pessoas têm dores horríveis, às vezes as articulações incham e impedem os movimentos mais básicos como seja apertar as mãos. No entanto, as pessoas continuam a tentar fazer a sua vida. Como? À base de anti-inflamatórios e aspirina. Porquê que as pessoas não se limitam a desistir? Porque o doente crónico na grande maioria das vezes é um ser de esperança. Esperança que se descubra uma cura, esperança que a doença entre em remissão.
Os doentes crónicos olham para as pessoas saudáveis com singular desconfiança. Normalmente, o doente crónico não se queixa de dores (excepto na sala de espera da consulta) porque o que ele tem é normal, pelo menos para ele.
Finalmente, os doentes crónicos têm a minha admiração ilimitada. São pessoas que se têm que desenvincelhar em meios potencialmente agressivos, escadas, maçanetas das portas, torneiras são obstáculos diários, mas existe ainda a desconfiança dos patrões e colegas de trabalho, porque existem coisas que não se vêm e o que não se vê, não se compreende. Existem doentes reumáticos que não têm deformações nas articulações, isso não quer dizer que não tenham dores. Mas vá-se lá explicar isso a alguém.
Com o tempo os doentes reumáticos aprendem a defender-se. Existem movimentos que evitam, aprendem técnicas de controlo da dor, e sobretudo evitam expor-se a todas aquelas situações que os fazem piorar.
Finalmente Breaking, um dia, estava eu no IPO a fazer exames, e no biombo ao lado estava uma criança de 6 anos. Essa criança estava a consolar a mãe dizendo-lhe que não se preocupasse que ela iria para o céu fazer companhia à avó e que a avó tomava bem conta dela de certeza. Eu tinha 16 anos. Serviu-me para a vida. Há coisas que são importantes, outras nem por isso. E nos dias maus, é disto que me tento lembrar, que existem situações infinitamente piores que a minha e imagino que muitos outros doentes crónicos façam isso também.
Desculpa se não sou capaz de falar disto no msn, talvez quando vieres em Dezembro seja mais fácil.

9 comentários:

Sofia disse...

E esse é apenas um dos motivos que me leva a admirá-la tanto ;)
Abraços

Breaking disse...

E hoje (ontem) fiquei a admirar-te e respeitar-te ainda mais :)

Como sabes, sou parcas em palavras sábias, aqui fica um forte abraço e beijinhos em sinal do meu apoio, embora este seja muitas vezes silencioso...

Obrigada

AnadoCastelo disse...

Aqui fica a minha sincera admiração.
Beijos

Anónimo disse...

Que a força seja o teu pilar,
Ilumine o teu sorriso, Sim pk o sorriso também é cronico...
Beijo-te na testa

Anónimo disse...

Que a força seja o teu pilar,
Ilumine o teu sorriso, Sim pk o sorriso também é cronico...
Beijo-te na testa

Capitão-Mor disse...

Cada um de nós é um guerreiro à sua maneira, não é verdade?
Boa semana para ti!

Anónimo disse...

É sem dúvida muito complicado lidar diariamente com situações ligadas à saúde, mais concretamente à falta dela, que nos limitam na qualidade de vida.

eu pessoalmente, também convivo com as minhas mazelas, tendo a noção que as há bem pior que as minhas, aprendi também, talvez de arrasto e em relação às emoções, a tentar perceber as pessoas que me rodeiam, conhecidas ou não, através dum exercício que reconheço seja difícil, o de nos tentarmos colocar no lugar dos outros, imaginarmo-nos com aqueles males que nos são desconhecidos.

não será até de todo descabido este exercício, uma vez que segundo as estatísticas oitenta e muitos % dos portugueses sofrem de problemas que a curto/médio prazo tendem a tornar-se crónicos incapacitantes

talvez uma fraca cultura cívica, ou simplesmente a filosofia instalada do querer demonstrar o que não é, neste caso, o que não sente, explique essa recorrente atitude de não querer entender ou aceitar aquilo que, muito bem dizes, não se vê nos outros, a dor - seguramente nos entenderiamos muito melhor.

apesar deste teu post ser uma chamada de atenção pessoal, não pude deixar de manifestar minha opinião.

:)

um sorriso

Evelyne Furtado. disse...

Mais uma a admirar você! Gostei de vir aqui e voltarei. Beijo.
Evelyne

Eumesma disse...

Pois, compreendo-te na perfeição, já que tb eu tenho algumas chatices cónicas e inclusive acho que estou a começar com tretas a nível de reumático...
Mas de facto, e infelizmente só as pessoas que tem probelmas e que tem tb limitações conseguem "estar na pele dos outros", é como tudo bna vida, há que vivenciar para dar valor.
Mas depois é como dizes, deixamos de valorizar tanto o que nos aflige qd ao nosso lado, deparamos com situações ás vezes mto piores do que as nossas.

Um beijinho de incentivo para ti, e que tenhas sempre essa força e sentido práctico que te são carateristicos para enfentares da melhor maneira todas essas coisas menos boas.