sábado, agosto 06, 2005

O Forte

Após me ter separado de um rapaz que amei com paixão, fiquei muito em baixo. Depois de ter feito a análise de tudo, do que tinha corrido bem, do que tinha corrido mal, optei de modo muito consciente, construir um forte.

Criei muralhas de espessura variável à volta do meu coração. No início essas muralhas abriam fissuras, ainda era tudo tão recente. Mas a pouco e pouco, essas muralhas foram sendo quase intransponíveis. Por dentro o meu coração deixou de sangrar e disse-lhe que estivesse sossegado que já bastava o que tinha passado.

Ao fim de três anos de uma luta insana, tinha o meu coração recuperado (ainda que muito diferente e ainda debilitado), as muralhas estavam a postos e o meu aspecto exterior, já não era o da menina derrotada, mas o da mulher que bateu no fundo do poço e recuperou. Como diria S., uma amiga minha, és como uma árvore que verga, verga mas nunca quebra. Não quebrei e como dizia antes, recuperei.

E abri-me de novo ao mundo, ao calor do sol no corpo, ao sorriso de uma criança, deixei a minha proverbial amargura que me serviu de escudo tanto tempo de lado. Essa alteração foi exterior, porque por dentro continuava tudo muito negro e triste.

Então, chegaste tu, vieste de mansinho, com pezinhos de lã. Começaste a dar-me mais e mais atenção, convidaste-me para jantar e sair para aqui e para ali. E sem eu me dar conta, o forte abriu uma brecha e tu entraste. Ao fim de tanto tempo eu sentia-me viva outra vez.

Neguei este sentimento o máximo de tempo possível, mas alguém me fez uma pergunta simples. Estás apaixonada por ele? Eu respondi que não. Porque não estou apaixonada por ti, nunca estive. Não existe nada a toldar o meu raciocínio em relação a ti. Eu amo-te, é bem diferente.

Foste-te embora, deixaste-me. Não vou perder tempo a analisar os porquês da tua decisão. Ela foi tua, nunca minha. Aliás, eu nem fui consultada. Recebi o resultado dessa tua reflexão solitária.

Agora? Agora resta-me recuperar o forte, reforçar as muralhas e impedir seja quem for de cá entrar e magoar-me mais.

O plano de acção é a recuperação do forte, mesmo que o meu coração sangre cá dentro. Sinto, mais do que tenho a certeza que vou recuperar de tudo isto e voltarei à minha relação íntima com o meu forte.

Um dia pode ser que alguém entre no forte e deseje lá permanecer. Até lá, trancas à porta…

4 comentários:

Ginja disse...

Sabes, tu nem imaginas quantas pessoas há por aí iguaizinhas a ti. Até me arrepiei toda quando vim cá espreitar as tuas mágoas, parecia que me estava a ler a mim própria . Sei (cá mesmo do fundo) de tudo isso, conheço cada uma dessas coisas, do que se sente, do que se pensa, do que fica, do que não foi, das dúvidas e das certezas que se confundem todas, das perguntas que nunca vão ter resposta e das respostas que nunca satisfazem, dos medos que se instalam e que consomem por dentro, coisas que nem sabíamos que podíamos sentir e olha... não há outra coisa a fazer senão pôr um pezinho à frente do outro, e seguir agarrando tudo o que é bom e que puxa por nós, pela nossa vontade de nos re-fazermos gente e ( principalmente ) de reavermos o sentido perdido das coisas e da nossa dignidade pessoal. A maior parte do tempo não é fácil conseguir isso, mas eventualmente consegue-se, independentemente de outras coisas que levam mais tempo a sarar e que não sabemos mesmo se algum dia vão sarar de todo. É a única maneira de a vida aos poucos se tornar suportável outra vez, apesar de tudo. É preciso torná-la suportável, antes de mais e isso passa por , devagarinho, reaprendermos a gostar de nós próprias (lembro-me de um anúncio do leite Matinal: "se eu não gostar de mim, quem gostará?"). E esse processo pode ser difícil e muito lento mas é absolutamente necessário, porque senão começas a arrastar o resto também para o fundo, o trabalho, o ambiente familiar,etc., e nem tudo tem que ruir, não é? Não deve ruir. E depois quem sabe ... É isto que te queria dizer, apesar de eu ser mais novita. Foi o que eu aprendi, a muito custo, mas aprendi .

Maríita disse...

Olá Ginja!
Em primeiro lugar, acho que a idade não tem nada que ver com os sentimentos. A vivência de cada um sim, tem uma influência enorme.
Eu entendo o que tu dizes, temos que ir caminhando, um pé em frente do outro, um passo de cada vez, eu sei como funciona o processo, e sei que tenho que deixar de me massacrar diariamente com perguntas. Não fui eu que escolhi esta separação, e acabo por me perguntar mil e uma coisas e estar cheia de dúvidas que noutras circunstâncias talvez não tivesse. Acho que uma das coisas que me deixa mais frustrada é não ter tido a possibilidade de viver em plenitude todos os bons sentimentos que tenho dentro de mim. Eu nunca tive muitos namorados, aliás que me lembre tive 3 ao longo da minha vida, mas orgulho-me de ter dado sempre o meu melhor na relação, desta vez o que aconteceu foi que quando finalmente eu estava ciente do que queria e de que queria viver a 100% a intimidade com este homem, as coisas acabaram.
Sabes, eu detesto viver meias relações, porque ao fazê-lo impedimo-nos de viver, eu acho importante rir a fundo e sem medos, chorar quando é caso disso, discutir e procurar explicar os nossos pontos de vista para atingir uma nova plataforma de entendimento e de intimidade e foi isso que me foi negado.
Devido à minha natureza e ao meu passado, sou uma pessoa extremamente desconfiada das intenções do próximo, mas sei que tenho que manter a mente aberta, senão acabo completamente sozinha.
Vou-te pedir um favor, nunca mais utilizes o argumento da idade comigo, eu nem sei que idade tens, mas é-me indiferente, a mim basta-me o facto de teres determinada sensibilidade.
Obrigada pelas tuas palavras,
Maria

Ginja disse...

Bem, se excluir um ou dois "flirts" de verão, namorados a sério não tive nenhum, portanto ... não te sintas mal por não teres uma colecção deles . Mas, ainda bem que sabes como funciona, e acredita que vais pôr isso a funcionar, mesmo que agora te pareça difícil chegar lá. Por essa mesma fase que passas agora passei eu não há muito tempo, e foi muito complicado sair disso, sei que não é nada fácil. Bolas !!!! Nada fácil mesmo. Mas a vida não é só isso e aos poucos vais abrindo o teu coração a outras coisas. Devagarinho, mas tens de reagir . Força ! ;)

Maríita disse...

Sabes Ginja,
O meu problema e que como sempre parece que acontece tudo ao mesmo tempo, e tem-me sido dificil reagir. A juntar a esta separacao, estao imensas desilusoes com "amigos" or so they say, dificuldades de indole diversa. E de um momento para o outro, excluindo, duas pessoas sempre presentes na minha vida, e duas que dao sempre um ar da sua graca, vi-me completamente sozinha. E isto, tambem nao tem ajudado em nada. Eu sou extremamente comunicativa e gosto de sair, rir e divertir-me, as pessoas fazem-me falta.
No outro dia, quando escrevi sobre perdoar, referia-me exactamente a essas pessoas "amigas" que me viraram as costas agora, nao creio que lhes possa perdoar, acho que e mais facil, apesar de tudo, comecar do zero.
Vou so fazer um comentario em relacao a ti que espero que nao leves a mal. Nunca tiveste namorados a "serio"? Eu sinceramente acho que os homens sao cegos! So pode! Eu nunca te vi, mas ja li muito do que escreveste, e nem quero acreditar que nenhum homem bom (no sentido de merecedor) foi teu namorado. So prova que andam ceguetas de todo e que a minha relacao com eles tem que ser evidentemente problematica!
Beijocas e continuacao de bom descanso, Maria
P.S. - Temos que tomar cafe um dia, ja agora com a Toranjinha tambem que tenho muita curiosidade em conhece-la.